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Ratos não foram os principais vetores da peste negra, segundo cientistas

A Peste Negra é uma das pandemias mais conhecidas do mundo, matando milhões e afligindo a Europa especialmente entre os anos de 1347 e 1353, mas continuando a causar surtos até o século XIX. É do conhecimento popular que a patologia seria disseminada por ratos, que carregam a bactéria responsável (Yersinia pestis) em suas pulgas, principalmente roedores silvestres, chamados de “reservatórios” da doença. Existe a possibilidade, entretanto, de termos superestimado o papel dos animais.

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É verdade que a doença começa em roedores, escapando para os humanos apenas ocasionalmente. O continente europeu também costumava abrigar reservatórios animais que causaram alguns dos surtos de peste – mas a ciência agora está tentando entender o papel das repetidas reintroduções da doença na Ásia, de e para onde muitos viajantes foram e voltaram, trazendo a bactéria novamente. . Qual cenário foi mais prevalente, ou se ambos tinham uma responsabilidade compartilhada, ainda estamos tentando descobrir.

Como a peste foi transmitida?

Em uma nova pesquisa, cientistas das universidades escocesas de Glasgow e Stirling descobriram que as condições ambientais da Europa medieval impediriam reservatórios animais de vida longa. Com base nessa constatação, temos que considerar outras possibilidades para a persistência da peste.

Uma é a reintrodução repetida de reservatórios asiáticos e a outra é a existência de reservatórios de curto e médio prazo no continente europeu. A velocidade de transmissão, no entanto, e os surtos generalizados não seriam possíveis com o movimento lento dos ratos. É mais provável, portanto, que a transmissão de humano para humano tenha desempenhado um papel maior do que se pensava anteriormente.

Para determinar as condições ambientais ideais para roedores, fatores como características do solo, clima, tipos de terreno e variedades de roedores foram levados em consideração. A presença de cobre, manganês, ferro e pH elevado, além de temperaturas mais baixas, maiores altitudes e menos chuvas são alguns dos fatores que levam a reservatórios mais persistentes, por exemplo — mesmo que não saibamos o porquê.

Com análises comparativas, os pesquisadores determinaram que os reservatórios centenários de peste em roedores eram menos prováveis ​​desde a Peste Negra de 1348 até o século 19 do que são hoje: eles nem poderiam existir na Europa, e os locais ideais seriam algumas regiões da China moderna e do oeste dos Estados Unidos, onde podemos ver reservatórios de roedores da praga hoje.

Na Ásia central, reservatórios como esses podem ter existido por milênios, especialmente em roedores como a marmota da estepe (Marmota bobak). O DNA antigo e as evidências textuais nos mostram que, uma vez que a praga viajou até a Europa, ela teria iniciado reservatórios de curto e médio prazo, sendo a localização mais provável a Europa Central. Com a impossibilidade de permanecer ali por longos períodos, a peste teria que ser reintroduzida para continuar sendo transmitida, pelo menos algumas vezes.

Em defesa dos roedores

O papel dos ratos – ou a falta deles – é evidente quando se olha para os diferentes surtos. A primeira ocorrência da peste, no início do século VI, durou até o século VIII, enquanto a segunda, que inclui a Peste Negra, começou na década de 1330 e durou 5 séculos. A última começou em 1894 e continua até hoje em lugares como Madagascar e Califórnia. Em sua maioria, as ocorrências foram da peste bubônica, quando a bactéria invade o sistema linfático, parte da defesa imunológica do organismo. Na peste pneumônica, os afetados são os pulmões.

A segunda pandemia de peste foi muito diferente da atual, desde a transmissão até as características da doença. A mortalidade era muito maior, chegando a 50% no passado, enquanto na terceira pandemia esse número raramente ultrapassava 1%. Na Europa, esses números são ainda menores para este último.

A frequência e a velocidade do transporte de mercadorias, animais e pessoas na Idade Média eram muito menores do que hoje ou mesmo no século 19, mas ainda assim a transmissão era incrivelmente rápida. Em terra, ela correu quase tão rápido em um dia quanto em um ano nos surtos atuais. Registros de cronistas, médicos e outros escribas medievais relatam que a doença se espalhou mais rapidamente e para mais lugares do que qualquer outra patologia da época, superada apenas pelo cólera em 1830 e pela epidemia de gripe de 1918-20.

Os roedores europeus, selvagens ou não, movem-se muito mais lentamente do que isso. Os surtos da terceira pandemia, exceto os raros casos de peste pneumônica, correspondem muito bem ao ciclo de fertilidade das pulgas de roedores, mas na segunda pandemia foram meses a fio de peste bubônica, mesmo durante o inverno, mesmo no frio extremo. do Báltico, visto de 1709 a 1713. Isso também vale para o calor mediterrâneo de 1348 até o século seguinte, com pico de contágio em junho e julho, os meses mais quentes da região.

Além de diferir bastante dos surtos recentes, esses dados não condizem com a temperatura ideal para que a peste salte dos roedores para os humanos. Isso sugere que a transmissão seria mais eficiente de pessoa para pessoa, também por meio de ectoparasitas, como piolhos e pulgas, ou pelo sistema respiratório e pelo toque.

Ainda há muito a descobrir sobre o papel humano e dos roedores nessas pandemias, redimindo os ratos injustiçados, mas uma coisa é certa — quando o trabalho dos historiadores se junta ao dos biólogos, avançamos muito mais nas descobertas.

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