A hanseníase, doença que já foi conhecida como lepra, tem cura e já foi alvo de metas e medidas da Assembleia Mundial da Saúde — órgão decisório da Organização Mundial da Saúde, OMS —, que buscava eliminá-la até o ano 2000, a partir do início dos anos 1990. Por que, então, a condição continua a afligir centenas de milhares de pessoas a cada ano?
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O combate à patologia envolveu a criação do Multidrug Treatment, ou tratamento multidrug, em tradução livre, uma combinação de medicamentos que conseguiu reduzir muito o número de casos. Mesmo assim, aproximadamente 200 mil pessoas acabam tendo o diagnóstico de hanseníase anualmente. O país com mais casos, atualmente, é a Índia, com metade deles, seguida do Brasil e da Indonésia. O último domingo de janeiro é o Dia Mundial da Hanseníase, usado para aumentar a conscientização sobre a doença.
O que sabemos sobre a lepra
Bem conhecida, a hanseníase é uma das patologias mais antigas do mundo. Histórias que retratam a doença remontam a centenas de anos antes de Cristo, mas a medicina só descobriu sua causa em 1873 — a bactéria Mycobacterium leprae —, com o cientista norueguês Gerhard Armauer Hansen, cujo nome acabou batizando a doença.
Espalhando-se pelo mundo por rotas de comércio global, atinge pessoas com sistema imunológico mais fraco, principalmente os desnutridos, aparecendo principalmente em estratos sociais frágeis nos países que atinge. A transmissão é por gotículas infectadas, mas o contato deve ser prolongado e próximo. Em 95% dos casos, um sistema imunológico adulto saudável pode combater as bactérias e mitigar a infecção, de acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA.
Há também um longo período de incubação antes do início dos sintomas. Isso pode levar em média de 2 a 4 anos, mas em alguns casos pode levar até 20 anos. Isso dificulta o controle e a erradicação, pois o número de infectados não pode ser totalmente estimado.
Uma doença está oficialmente sob controle quando atinge menos de 1 em cada 10 mil pessoas, reduzindo os programas de controle e medidas sanitárias vigentes. Quando muitas pessoas infectadas saem do período de incubação e apresentam sintomas, a prontidão para o tratamento pode não ser eficaz, infectando ainda mais pessoas. O número atual de casos, por exemplo, é menor do que a carga real presente nas comunidades.
Diagnóstico, sintomas e tratamento
Um agravante na atenuação da patologia é o seu diagnóstico, muitas vezes tardio. A bactéria M. leprae pode ser detectada no fluido linfático e no tecido da pele de um paciente, mas o método de detecção nem sempre é confiável e as infecções podem permanecer ocultas até que os sintomas apareçam. Para piorar a situação, os micróbios não podem ser facilmente cultivados em laboratório ou modelos animais, tornando quase impossível descobrir mais sobre a doença com experimentos de laboratório.
Os sintomas são representados por alterações visíveis na pele e danos aos nervos, causando a perda da sensação de dor em partes específicas do corpo. Essa insensibilidade pode levar a lesões mais graves e inflamações crônicas, e quando isso não é diagnosticado por muito tempo, o membro em questão pode acabar tendo que ser amputado.
Casos mais extremos podem levar a incapacidades físicas, que se somam ao preconceito e ao tratamento desumano dos portadores da doença. Historicamente, as pessoas com hanseníase foram estigmatizadas e marginalizadas e, em alguns lugares, os problemas sociais que enfrentam permanecem os mesmos. Uma das medidas de combate ao estigma foi a abolição do termo “hanseníase” nos documentos oficiais brasileiros em 1995.
A hanseníase é tratada e curada por meio da poliquimioterapia, que utiliza 3 drogas: rifampicina, dapsona e clofazimina. A duração de seu uso dependerá da gravidade da infecção, variando de 6 a 12 meses até a erradicação da bactéria. Pela dificuldade do estudo laboratorial, atualmente não há como criar novos medicamentos ou vacinas contra a doença, mas, a partir de sua detecção, a cura é relativamente simples, e o tratamento é disponibilizado gratuitamente pelo SUS.